Deve ser a quarta vez que vejo o espetáculo Tangos e Tragédias, e já falei sobre isso, com alguma propriedade, aqui. Ainda que não haja novidade, há diversão, ainda que os esquetes sejam os mesmos. A repetição, entretanto, atenua o impacto, e permite que a mente devaneie pelos aspectos periféricos do espetáculo, como tratarei a seguir.
O teatro da UFSC
O teatro da UFSC, conhecido como Elefante Branco pela comunidade universitária, é bem inferior ao do CIC, onde vi os gaúchos na totalidade das vezes anteriores. A inclinação do auditório é menor, de modo que o efeito de espectadores altos nas filas à frente é mais sensível. Para efeito prático, leve em conta o dublê de Hellboy que sentou à minha frente, e que impedia a visão dos artistas no palco de forma que eu os via apenas da cintura para cima. No CIC, apesar do pouco espaço para as pernas, o espaldar das cadeiras à frente ficam quase na altura dos joelhos de quem está atrás, e a visibilidade é muito melhor.
O operador de câmera no teatro da UFSC é particularmente muito ruim. Os ângulos poderiam ser desculpados por alguma restrição de posicionamento da câmera, mas os enquadramentos não são dignos de perdão. Estes me lembraram o tempo aquelas filmagens toscas de festas de aniversário em subúrbio, ou mesmo certos trechos das video-cassetadas do Faustão. Imagino que os telões sirvam para compensar a péssima visibilidade do palco, então os artistas podem processar o teatro por distorção de proposta.
Para fechar, um dos artistas reclamou, no palco, da impossibilidade de usar os suportes de iluminação do próprio teatro. Devido a esta proibição, eles tiveram de usar os suportes deles mesmos, que bloquearam parte da visibilidade do público.
DVD
Existe um DVD, todo certinho e autorizado, produzido pelos próprios embaixadores da Sbórnia, e ele vem sendo vendido há algum tempo. Com isso, mais gente conhece eles, e um troco a mais entra no caixa.
O lado negativo é que a platéia já sabe o que vai acontecer em diversas passagens. Por exemplo, quando o arrepiado pergunta se alguém acha que certa história termina ali, normalmente ficaria um momento de dúvida nas negativas, até que uma voz dissonante gritaria “não”, em resposta à provocação dele, e rolaria o restante do quadro, brincando com o nome da pessoa discordante. No espetáculo de ontem, o “sim” veio rápido demais, perdeu um pouco a graça.
É quase como as respostas para os koans, que, muito antigamente, serviam como teste de iluminação para iniciados zen-budistas; depois de algum tempo, vários deles sabiam a resposta de antemão, e “colavam” na prova.
Educação
Apesar da existência do DVD, o espetáculo vale muito a pena e o ingresso. É a diferença entre um show de banda ao vivo, e a apresentação em DVD. Existe a vibração da platéia, e a interação com o palco. Os embaixadores da Sbórnia brincam muito com as reações da platéia, e adequam passagens da apresentação aos costumes e locais da cidade onde estão.
Entretanto, o que salta aos olhos é uma necessidade patente de musicalidade ativa na vida das pessoas. São propostos exercícios simples de acompanhamento, e o auditório se diverte horrores ao soltar sua própria voz, seja em brincadeiras com o efeito do som se deslocando de um lado ao outro, seja em batalhas vocais entre facções definidas pelo maestro no palco.
A necessidade de expressão é algo crucial para a felicidade do ser humano, e nota-se claramente isto em um espetáculo bem consolidado como é Tangos e Tragédias. As pessoas, entretanto, esquecem disso ao sair do teatro. Fossem elas buscar uma aula de violão, canto ou outra forma de música, seriamos uma sociedade bem menos frustrada.
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PS.: A imagem utilizada é de minha autoria.
Gilvas,
Também estava lá! Pela primeira vez…
Apesar de ficar no mezanino, gostei muito também.
Um abraço!