Alan Dean Foster: O Oitavo Passageiro

Eu não sabia, e provavelmente você também não sabia, mas existe um livro narrando os eventos que você, provavelmente, e eu, com certeza, já vimos no primeiro filme da, atualmente quadrilogia, Alien. O livro imprime uma terceira dimensão ao que o filme mostra, a profundidade. A película dirigida por Ridley Scott é espetacular em suas imagens, em seus efeitos sonoros, mas Alan Dean Foster tem as manhas de trazer o oitavo passageiro, quase literalmente, para dentro de nossas entranhas.

Um livro, óbvio, extrai de nós um tempo diferente, um andamento mais susceptível às texturas de que uma boa história de terror se alimenta. Foster, com este maior estoque de atenção disponível, desenha cada tripulante com maior número de camadas e de detalhes.

Com estes reforços descritivos, temos dados para entender o quanto Dallas é um pau-mandado e Ash é um filho-da-puta. São dados de sobra, que se amontoam, e transformam-se em ambigüidades corrosivas. Ripley é insegura, e Lambert é medrosa, e uma coisa é diferente da outra embora tudo possa se confundir em mais de um momento.

A edição brasileira da editora Abril é fina, pouco mais de duzentas páginas. Foster, entretanto, orquestra sua trama com paciência e pequenos empurrões, que nos jogam dentro de um crescendo de desconforto e suspense, o qual, curiosamente, não conseguimos largar.

Alien, o primeiro filme, gerou continuações dirigidas por mais três diretores de primeira classe, e um sem-número de filhos bastardos, parte deles exibidos no finado Cine Trash da emissora Bandeirantes. Um ponto interessante dos exemplares da prole indesejada é que todos cometiam um mesmo erro crasso: Confundiam o papel do alienígena na trama. O Alien pode ser o motto do do roteiro, mas não é o centro do trama.

Os diretores das cópias baratas, e seus roteiristas, se ativeram ao esquema monstro desconhecido + um punhado de seres humanos + um local isolado de onde não se pode escapar sem confrontar o monstro. O Oitavo Passageiro usa este esquema para fazer rodar uma história onde o verdadeiro vilão é uma corporação inescrupulosa. A lição que fica, ao final de todos os filmes, é algo do tipo “o alien é fodão, mas o monstro é um ser humano.”.

A tela do  cinema é um fator limitante, assim como provavelmente o orçamento e a duração aceitável de um filme de suspense. Ainda assim, me dá uma dor no coração não ver na telona as magníficas paisagens descritas por Foster em seu livro. O planetóide onde a tripulação do Nostromo encontra seu algoz é uma batata vulcânica com tempestades de areia que roubam toda a visão. Eles pousam pouco antes da alvorada, e a evolução das cores da luz na atmosfera intensificam a claustrofobia da trama.

Eles pousam de forma relativamente banal, apesar do acidente. Há um contraste entre esta aparente simplicidade que os exploradores espaciais encontram na época descrita, e seu assombro diante de uma nave alienígena tão grande que um dos terráqueos supõe estar diante de uma formação rochosa, e não de um artefato que um dia singrou o espaço. A assimetria e as formas orgânicas amplificam o a estranheza da cena.

De volta à nave, há cenas que o filme não comportaria. O alien ataca o estoque de comida do Nostromo, por exemplo, numa cena que lhe empresta um ar de predador necessitado de alimento. Esta identificação impregna a cena de um horror primitivo e sinistro. A claustrofobia nas cenas de Dallas dentro do tubo de ventilação é de um incômodo mais do que expressivo.

Há, ainda, cenas que acabaram sendo usadas em outros filmes da quadrilogia. Como o garotinho de Aliens, Dallas está em um casulo, e implora que Ripley o mate. Como na cena de Ressurreição em que a Ripley clonada encontra as tentativas prévias de repetí-la, ela libera, irracionalmente, fogo sobre o antro de horror. Como em Alien 3, o andróide despedaçado é ressuscitado para colaborar com a investigação dos eventos bizarros do passado recente.

Sobre gilvas

Pedante e decadente, ao seu dispor.
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2 respostas para Alan Dean Foster: O Oitavo Passageiro

  1. Marcio Fernandes disse:

    Pô, muito legal a resenha do livro. Realmente gosto muito do filme, mas somente pela internet conseguimos algumas informações sobre o assunto. Parabéns e poste mais materiais.

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