Sou caipira mesmo!

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Antes de começar a escrever o que me dispus a escrever hoje, vou ressaltar que moro em Florianópolis, e que os fatos relatados neste texto possuem uma forte tendência a serem absolutamente reais. Entretanto, ninguém deve esperar que eu pudesse ter mandado minha verve romancista passear; aí seria pedir demais.

Sobre ser caipira.

Cresci num sítio na localidade de Marcílio Dias, e, diabos, encontrei muita diversão naqueles seis anos que lá passei. Vacas, cavalos, galinhas, abelhas, um terreno enorme, muitas árvores, ranchos tenebrosos… Enfim, tudo que um garoto de imaginação fértil e pouca idade poderia desejar para ser feliz.

Aquele guri cresceu, e continua o mesmo caipira. Hoje passei o dia atracado no quintal, com minhocas, galinhas e muita grama, e eu sinto-me como se tivesse ainda meus seis anos.

Para corroborar meu imaginário caipira, nada como a literatura de um certo sulista, que gostava de escrever sobre um mundo perdido nas terras do Mississípi. Terminei ontem de ler Os Desgarrados, escrito na fase final da vida do meu herói bigodudo. O livro trata de uma viagem de iniciação de um garoto de onze anos, que vai para Memphis com Boon Hoganbeck e Ned McCaslin, mais dois dos sempre interessantes personagens de Faulkner.

Um traço marcante em toda a obra que conheço de Faulkner é a realidade impactante da descrição dos personagens. Sinto como se conhecesse cada soco que Boon desfere contra Butch, e é impossível não ficar dividido com a teimosa sabedoria de Ned, cheio de artimanhas sagazes.

Neste ângulo, fica ressaltado o suor como característica mais clara nos tipos humanos que andam e moram nas estradas do Mississipi. Nos outros livros de Faulkner, também não se escapa do suor, relato de humanidade no sul dos Estados Unidos.

Outro detalhe é o descompromisso de Faulkner com certas tramas. Como na vida, certas linhas de eventos parecem inevitáveis, mas, de repente, diluem-se, dando lugar a soluções truncadas, que acabam sendo as mais naturais, por estranho que possa parecer.

E, é claro, algum Beauchamp tinha de aparecer, e tinha de ser o negro mais tinhoso da história, teimoso e cabeçudo, sempre leal à sua natureza, pois mais bizarra que possa ser sua descrição.

Sobre gilvas

Pedante e decadente, ao seu dispor.
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3 respostas para Sou caipira mesmo!

  1. Ox disse:

    Agora entendi de onde vem o seu lado Ogro Ranzinza.
    Também fui uma criança feliz. Passei parte da minha infância no Maranhão (dos 5 aos 10 anos) e lá eu podia brincar na rua, andar descalço, jogar bola com o filho do lixeiro, me afogar nas praias, invadir os quintais dos vizinhos, brincar nos mangues… era um filhote de ogro. Bom, o fim da história é triste: tivemos que nos mudar pra Curitiba e me tornei isso aqui:(

  2. Tati disse:

    Puxa, é bom relembrar daquele Gilvan que adorava cortar pasto para as cabras e depois dar um mergulho na praia, enquanto eu ficava dormindo…

  3. Mirian Yoschie disse:

    E diz ai, alguma mulher bonita e querida te esperou com um bolo fofo ou um pão quentinho depois de um árduo trabalho na roça??!!
    Abraçoo!

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