Goleman&Davidson: A Ciência da Meditação

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Meditação costumava ser um assunto associado a religiões descoladas e cheirando a incenso, o tipo de papo que seria ouvido numa baladinha da Lagoa e não em uma sala de aula de MBA na FGV. Hoje atenção plena, um tipo de meditação, é assunto de vários periódicos de gestão, e não raro há algum monge de alguma religião asiática ensinando executivos a serem mais produtivos.

Daniel Goleman ficou famoso por ter escrito Inteligência Emocional, sendo culpado por todos os títulos que pegaram carona no título de seu maior sucesso. Dá-lhe variações mais ou menos criativas usando Inteligência e Emocional, não raro com resultados desoladores. Richard Davidson é seu parceiro de estudos há algum tempo. Ambos são entusiastas da meditação desde quando isso significava ir à Índia e não apenas acessar um aplicativo fofinho num celular.

Meditação, hoje se sabe, pode ser dissociada de qualquer religião. Meditação, também se sabe, é algo sério, que demanda muitas horas de prática para alcançar-se resultados sólidos, apesar de que sessões curtas demonstram efeitos temporários muito interessantes. A Ciência da Meditação fala sobre as tentativas de aplicar metódos científicos para comprovar os efeitos da meditação. Como todo bom livro que se proponha a tratar algo por viés científico, traz mais dúvidas do que certezas.

De começo, feitas as apresentações e traçadas as linhas cronológicas de ambos os autores pelo universo da meditação, são apresentados alguns casos de charlatães do ramo, algo que deve ser popular ainda hoje. São definidos alguns critérios para o reconhecimento de farsas e anedotas pessoais dos autores são mostradas como exemplos. São propostos métodos de medição da resposta neural, algo como retratos da paisagem cerebral em estados alterados. São recentes tecnologias como a ressonância magnética dinâmica, assim como sua ampla disponibilização.

Outro ponto é que experimentos científicos presumem que ensaios possam ser comparados dentro de certas condições de contorno. Existem dezenas de escolas de meditação, com diversas técnicas muito distintas. Os autores apontam para pesquisadores que simplesmente criam ensaios misturando todos esses sabores e técnicas, sem realmente traçar as linhas de similaridade.

A forma como os autores levantam certas dúvidas faz com que este livro seja interessante inclusive para pessoas interessadas em método científico. Meditação é algo difícil de encaixar em formas para avaliação, o que torna o livro ainda mais desafiador. Após todos esses pontos de dúvida e questionamento, são trazidos enfim resultados tímidos, mas muito promissores. A meditação realmente parece trazer bons resultados para seus praticantes, como maior resiliência emocional e maior capacidade de se relacionar com outras pessoas e com as incertezas da vida. Ainda falta muito, todavia. Sempre falta muito estudo em quase qualquer assunto importante. Ainda vivemos em uma era dogmática, em um país cujos governantes parecem se comportar como em uma teocracia distópica. Falta muita pesquisa, temos de exercitar as dúvidas para combater as falsas certezas de boa parte da população. Curiosamente, é justamente uma prática anteriormente associada a religiões que pode nos ajudar.

Sobre gilvas

Pedante e decadente, ao seu dispor.
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Uma resposta para Goleman&Davidson: A Ciência da Meditação

  1. Mario Tessari disse:

    “Falta muita pesquisa, temos de exercitar as dúvidas para combater as falsas certezas de boa parte da população.”
    Vamos meditar.

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