Sisters of Mercy São Paulo 2019

sisters

Em meados dos anos oitenta, Andrew Eldritch declarava que seu objetivo era tornar sua banda, The Sisters of Mercy, no maior ato de hard rock deste planeta. Confiantes na ironia tão cara aos declarantes topetudos, preferimos pensar que era brincadeira e que a banda inglesa reencontraria suas raízes no decadentismo draculesco. Vimos Wayne Hussey ser defenestrado e mais tarde Patricia Morrison ir pelo mesmo caminho, mas eu preferi acreditar que o bufão se reencontraria depois de Vision Thing. Oh, a crença polianesca que me acomete em certos casos.

A banda não lançou nada desde Vision Thing, que deve ter ocorrido em 1992. O que faz algum sentido. É vergonhoso ver bandas que lançam continuamente discos “novos” que são apenas reedições de triunfos passados. Para um exemplo didático, veja a banda australiana AC/DC, que veio regravando o mesmo disco desde os anos setenta. Há quem goste, mas, convenhamos, é sempre o mesmo disco. E o mesmo uniforme de colégio interno. A honestidade de se perceber um dinossauro já em 1992 tem seus méritos. O problema é que uma banda multifacetada ficou presa em sua versão de 1992, o que fica claro na formação e nas versões.

O palco do Tom Brasil abrigou Eldritch e Doktor Avalanche, o que é correto, dado que ambos são os pontos de referências da mitologia da banda. Eldritch, devo pontuar, estava a cerca de 40% da capacidade. Sua voz está acabada, ele não consegue impor presença no que canta. Sua movimentação de palco tem algo de desconfortável. Ele se move, cola em uma das paredes de som, faz movimentos com as mãos, tenta vociferar, mas nada convence. Sua pequena figura de Nosferatu se esvaziou, e ele não parece acreditar em si mesmo.

A banda é completada por dois guitarristas. Um moreno de cabelos curtos puxa a maior parte das melodias, enquanto o loiro cabeludo foca mais nas poses. As execuções prescindem de sutileza. Tudo soa como versões apressadas no tom de Vision Thing. Mesmo algumas canções do derradeiro disco são atropeladas pela preguiça e pela pressa, como Detonation Boulevard, cujo início em slide eu não consegui ouvir, e que só consegui reconhecer no final do primeiro refrão. A falta de um baixo fica clara nas versões do Floodland, mas, curiosamente, as canções desse disco não sofreram tanto. Tristeza me deu ao ouvir uma versão burocrática de Marian, presença constante no repeat do meu aparelho de som. Eldritch renega seu passado e se apega a sua declaração, torna-se uma banda posuda de hard rock, praga que grassou nos anos oitenta e parece se perpetuar entre músicos preguiçosos.

Ou simplesmente estou sem paciência para posers.

Sobre gilvas

Pedante e decadente, ao seu dispor.
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