Top Five: Comédias Românticas

romantic-comedies-dvd-coversUm homem rabugento precisa de princípios, e um dos principais princípios a reger minha vida é o de não ceder ao hype. Em tempos virais de super-exposição, é importante manter-se alheio ao que todos gostam. Se for bom, sobreviverá. Se não for bom, adentrará os subterrâneos da vergonha midiática, pipocando nostalgicamente em retrospectivas em canais cafonas.

Por esta razão, provavelmente, é que deixei de apreciar Alta Fidelidade, livro e filme, em primeira mão. No mesmo embalo ficou para trás uma das diversões prediletas de Rob Fleming e sua trupe de nerds musicólogos: criar top fives. Agora que esta onda já passou, consigo enxergar seu verdadeiro charme, e posso brincar com isso.

Mas começar por onde? Qual seria um primeiro tópico perfeito para exercitar esta bobagem tão divertida e complexa? Ora, pipocas, com um dos gêneros cinematográficos que mais oscilam entre o sublime e o irrelevante: a Comédia Romântica.

Listas assim são imprecisas, e nisto reside boa parte do charme delas. Veja o exemplo de Alta Fidelidade: é um bom filme, e poderia ser classificado como uma comédia romântica. A menos, claro, que comédia romântica necessariamente inclua nomes como Sandra Bullock, Jennifer Aniston ou Matthew McConaughey. Deste último, confesso de que gosto de EDtv, mas não é o suficiente para se classificar no Top Five. Failure to Launch teria sua chance, mas seria muito mais pelo casal encabeçado por Zooey Deschannel do que pelo de Sarah Jessica Parker.

Gosto também do trabalho dos Irmãos Farrely, mas o caráter de comédia romântica é secundário, apesar de vários elementos estarem presentes. Na verdade, o romance é uma força motriz por trás de boa parte do cinema de verdinhas, e Iron Man não me deixa mentir.

Coisas muito óbvias me incomodam também. Doce Novembro, por exemplo, é inaceitável, muito direto, muito clichê, ofende meus neurônios. E coisas patéticas, como as que Adam Sandler faz, ainda mais. No outro extremo, bobagens divertidíssimas e bem estruturadas, como As Loucuras de Dick And Jane ou O Virgem de Quarenta Anos são muito apreciáveis, mas por outros aspectos.

Vamos aos títulos, sem ordem de preferência, claro.

Mais Estranho que a Ficção: Lida com o processo de escrever livros, tem Emma Thompson e uma história de amor entre um übber-nerd e uma hippie urbana. Sim, o diretor errado pode estragar um filme assim, principalmente por conta da auto-referência da própria trama. Marc Foster, entretanto, segura o rojão, e o resultado final se aproxima do sublime.

Abaixo o Amor: Renée Zellweger é um nome polêmico em Bridget Jones, que realmente não me apeteceu. Porém, é impossível não apreciar o perfeito entrosamento que ela alcança com Ewan McGregor, um dos atores mais interessantes de sua geração, nesta estilosíssima história de amor entre extremos. Os diálogos afiados e a ousada aclimatação retrô dão a este filme um ar de peça única, do tipo que se perdeu em algum ponto do tempo no qual as comédias de Hollywood combinavam inteligência sutil e diversão.

Três Vezes Amor: Os tempos modernos são duros para as expectativas simplistas da comédia romântica, e raramente a alma gêmea é um recurso utilizável em película. Este filme contorna este problema técnico, e produz uma gema belíssima, que não podia deixar de trazer um livro novecentista em seu bojo.

Goldfish Memories: Os ingleses tentaram em Love Actually uma overdose de relacionamentos, mas tudo que rolou, no espectador, foi uma indigestão, e olhe que eles tinham um trunfo fantástico, alguém que foi feito para as comédias românticas: Hugh Grant e seu sorriso perfeitamente perfeito. Ainda bem que eu não nasci Hugh Grant, ou, diabos, eu teria me metido em infinitamente mais encrencas do que eu já me meti. Bom, o ponto é que a Irlanda levou o título com este maravilhoso exemplar de vidas amorosas que se cruzam de formas inesperadas e divertidas. Há livros, há amor em diversas cores, embora isso não justifique a horrenda tradução nacional, e você termina a exibição sorrindo.

Endiabrado: Brendan Fraser é um dos patetas mais patetas do cinema, que, felizmente, tem papéis perfeitos para ele, como prova O Americano Tranqüilo. A fábula em que o diabo, em forma deliciosa de Elizabeth Hurley, invade a vida de um bocó típico e perdedor para oferecer a dádiva de sete vidas diferentes com seu alvo amoroso, permite diversos malabarismos e um recomeço a cada vida que o protagonista experimenta. Este expediente cansaria se durasse mais do que dura, tanto que a vida do rockstar gótico ficou de fora, em parte porque é depressiva e poucos entenderiam a graça dela. Fora isso, cáspite, cantar canções sobre golfinhos é realmente demais.

Reclamem. Ficaram de fora pérolas como O Fabuloso Destino de Amelie Poulain, mas eu deixei de fora o continente europeu, de propósito. Da mesma forma deixei Tom Hanks e Meg Ryan, dois ícones fantásticos do estilo, assim como Michael J. Fox, cujo O Segredo de Meu Sucesso me inspirou a escrever este texto. Sou injusto, como qualquer um. E me divirto, apesar disso. Divirtam-se vocês também.

Sobre gilvas

Pedante e decadente, ao seu dispor.
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13 respostas para Top Five: Comédias Românticas

  1. Marina disse:

    Adorei o texto.

  2. Pingback: Dois Discos com Um Filme No Meio « sinestesia

  3. Martha disse:

    você é um cara corajoso, Gilvas.. rs

  4. Ewan McGregor é tudo de bom. Vc viu The Pillow Book? Oportunidade incrível de vê-lo nu em pelo, rsrs.
    Se eu fosse incluir filmes europeus, minha comédia romântica preferida seria Elza e Fred. Um belo quadro do amor…

  5. maricota disse:

    Legal, legal…
    Mas veja bem, o que esta foto de “antes do amanhecer” está fazendo aí? Horroroso filme.
    Essa seria legal: esta http://www.tuseta.fi/vinokino/2004/movies/goldfish_memory/get_picture.jpg ou esta: http://3.bp.blogspot.com/_uxN4W5j4a_8/SJJHUY3lkpI/AAAAAAAAAhk/FoomeI2o9Lo/s400/115.jpg

    beijo

    • gilvas disse:

      a idéia da imagem era justamente mostrar uma comédia romântica genérica ainda que “descolada”, com uma ponta de ironia pelo hype de que eu falava no texto. não usei imagem de nenhuma das comédias citadas, pois poderia parecer que eu tinha preferência específica por alguma delas. a imagem de goldfish memories eu usei na resenha do filme, linkada no texto.

      aliás, eu esqueci de botar big fish entre os filmes que poderiam ser considerados comédias românticas, mas que eu acabo classificando em outra prateleira.

      dica: cria um gravatar para ti, senão tu apareces com um avatar automático do wordpress nos comentários.

  6. mafra disse:

    siiiiim!!!!!

    e até comentei lá no meu blog.

    • gilvas disse:

      pardon, monsieur, eu não havia visto o comentário sobre o divine comedy. jean-pierre replies: my mission is to become eternal and to die. heaven knows the reason why.

  7. mafra disse:

    por fim: quis dizer “estilo” e não “estiloso”.

  8. mafra disse:

    ops: jamais pegaria, mas vou pegar agora pra ver o que há ali.

    • gilvas disse:

      em endiabrado há uma comédia despretensiosa para um sábado de tarde. esta é a idéia.

      maldade deixar o precursor harry & sally de fora, mas implico horrores com billy crystal.

      e a europa, bem, já foi ouvir when the lights go out all over europe?

  9. mafra disse:

    gilvan, estimado,
    deixar de fora o continente europeu é um pecado que alguém pode cometer ao fazer a “sua” lista de cinco melhores comédias românticas (de todos os tempos?)… agora, nem citar harry & sally (when harry met sally) – filme que, de certo modo, inaugura o estiloso como o conhecemos hoje – é, penso, imperdoável!!!
    (e não vale falar em meg ryen!)

    rob rainer definiu tudo que nos anos seguintes, infelizmente, viraria clichê, mas o fez de maneira tão brilhante que eu sou obrigado a lhe sugerir uma revisitada ao filme. quem sabe assim sua lista não comporta seis longas?!?

    (ah, aproveito também para dar um confere em três dos seus cinco títulos… – aliás, endiabrado é o tipo de coisa que eu JAMAIS pegaria numa prateleira)

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