Um camarada me disse, certa feita, que o Snickers era o Charge que deu certo. O que pode significar que, para ele, o Charge é uma imitação do Snickers, ou talvez seja isso o que ele disse, na verdade.
Larguei do Charge há alguns anos, quando o nougat dele passou a, estatisticamente, cada vez mais vir farinhento. Nougat sem liga não faz o menor sentido. Depois de algum tempo, surgiu o Snickers nas prateleiras dos supermercados, e passei a comprar para comer enquanto dirigia de volta para casa.
Recentemente, quando mesmo esta prática começou a declinar, devido a meu questionamento constante sobre o real prazer que eu tenho em ingerir doses maciças de açúcar, observei que o fabricante do Snickers iniciou uma campanha pesada de divulgação, e o chocolate passou a constar de muitas prateleiras que nunca tinham ouvido falar dele.
Dentro do esforço de divulgação, uma peça publicitária ganhou bastante giro e notoriedade no Youtube, sendo bastante falada em alguns círculos que frequento. O fato não atiçou minha curiosidade a ponto de eu buscar o vídeo, mas o suficiente para que eu não apertasse Skip quando o comercial apareceu antes de um vídeo a que eu estava assistindo.
A peça publicitária é bem produzida, possui um bom timing, e deve estar vendendo muito chocolate por aí. Do ponto de vista sociológico, é uma propaganda que peca terrivelmente ao reproduzir preconceitos latentes na sociedade brasileira.
A trama consiste em alguns amigos se divertindo no sofá, quando ouvem a Betty Faria reclamando de bagunça, ou alguma outra coisa que adolescentes fazem. Um dos caras dá um Snickers para a Betty, e ela se transforma, presumivelmente, de volta em um dos adolescentes.
O discurso do anúncio comunica, em primeiro lugar, que mulheres são chatas. Em segundo, velhos são chatos. Para fechar, mulheres velhas são mais chatas do que a soma de mulheres + velhos. Legal mesmo é ser um adolescente que vive assistindo televisão, bagunçando a casa e enchendo o rabo de açúcar e produtos químicos.
O lado bom de tudo isto é que ficou bem mais fácil para mim evitar sucumbir à tentação de pegar um Snickers na prateleira do supermercado.
sinestesia 